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Bolsonaro censura Ciência e Cultura para impor ditadura

Rejeitado pela população que tomou as ruas do País em maio e junho em manifestações contra suas políticas, Jair Bolsonaro se mantém no poder com apoio das elites econômicas que não querem ampliar a crise política para conseguirem aprovar o quanto antes a Reforma da Previdência e outras medidas. Com esse apoio, o presidente ganha espaço para fortalecer sua política de extrema direita e seus acordos espúrios com o imperialismo. Exemplo disso está nos ataques contra instituições de pesquisa e arte através de medidas autoritárias, sempre precedidas de comentários toscos, preconceituosos e falsos de Bolsonaro e sua equipe.

Em duzentos dias de governo, o ex-capitão do exército colocou em xeque pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre desemprego, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre desmatamento na Amazônia, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre drogas e ameaçou censurar ou acabar com a Agência Nacional de Cinema (Ancine).  A tática é sempre a mesma: primeiro o presidente diz publicamente, sem nenhum embasamento científico ou argumento plausível, que as agências de pesquisa divulgam inverdades que favorecem a ideologia de esquerda. Logo em seguida, ele toma uma medida oficial para colocar as Instituições à serviço da sua ideologia de direita, cujo objetivo é reprimir a população para poder destruir a economia nacional.

 

O Inpe e a entrega da Amazônia para a exploração estrangeira

 

Na sexta-feira, 02 de agosto, o engenheiro e físico Ricardo Magnus Osório Galvão foi exonerado da direção do Inpe, dias após Bolsonaro ter chamado de mentirosos os dados do Instituto que indicavam o aumento da devastação da Amazônia sob sua gestão. Em seguida, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou a abertura de um processo de concorrência pública para contratar um serviço de medição da destruição da Amazônia, desqualificando as pesquisas do órgão federal. Galvão, funcionário de carreira no Inpe desde 1970, se pronunciou, com respaldo da comunidade científica, contra as declarações do presidente e de seus ministros, chegando a chamar Bolsonaro de covarde em declaração à imprensa.

O Inpe mede com satélites o desmatamento das florestas brasileiras desde 1988. Em 2004 foi criado o sistema Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) para dar suporte à fiscalização ambiental da Amazônia. De acordo com a comunidade científica, o sistema teve atuação decisiva na redução do corte raso anual na floresta de 27,8 mil km² em 2003-2004 para 4,6 mil km² em 2011-2012. O Deter foi decisivo também por expor a atuação dos últimos governos e ajudar a sociedade a pressioná-los. E foi essa transparência dos dados do Deter o alvo dos ataques de Ricardo Salles durante entrevista coletiva com a presença de Bolsonaro e dos ministros Augusto Heleno, do Gabinete Segurança Institucional (GSI), e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, no dia 1º de agosto.

Sem dados científicos que desmintam as pesquisas do Inpe e sem uma denúncia formal sobre o uso dessas pesquisas para favorecer ONGs, conforme argumentação de Bolsonaro, a privatização da pesquisa, além de jogar verbas públicas nas mãos de grupos privados estrangeiros, em detrimento do desenvolvimento da pesquisa nacional, visa favorecer a exploração predatória da Amazônia, sem que haja monitoramento público dos impactos. A intervenção no Inpe ocorreu simultaneamente à apresentação, pelo presidente, de um projeto de lei que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas, concentradas majoritariamente na Amazônia e que também estão ameaçadas pela violência do agronegócio.  

 

Ataque ao IBGE para mascarar desemprego

 

Em abril o alvo dos ataques mentirosos do Bolsonaro foi a metodologia de cálculo de desemprego adotada pelo IBGE. Em entrevista à TV Record o presidente criticou Instituto que registrou um crescimento na taxa de desemprego do Brasil.

Os dados do último trimestre móvel da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Mensal (Pnad/C) revelaram que o número de desocupados entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019 chegou a 13,1 milhões, acima dos 12,2 milhões do trimestre móvel anterior (setembro, outubro e novembro de 2018). No mesmo período, o número de desalentados (os que desistiram de procurar emprego) também cresceu.

Segundo matéria da Agência Lupa, Bolsonaro mentiu três vezes em menos de um minuto ao se referir ao assunto na entrevista. Para falar de desemprego, o IBGE usa os mesmos conceitos utilizados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já Bolsonaro empregou em suas críticas noções rasteiras, baseadas no senso comum e, como sempre faz, mostrou completo desconhecimento formal sobre o assunto. Bolsonaro, por exemplo, diz que o número de desalentados (a quem ele chama de “quem não procura emprego”) interfere na taxa de desocupação. Isso não é verdade. A taxa, também produzida pelo IBGE, é calculada levando em conta a força de trabalho, e ela, por sua vez, só considera as pessoas ocupadas e desocupadas. Exclui, por completo, o grupo dos desalentados.

Os trabalhadores devem lutar contra a estratégia do governo de dizer impropérios para ganhar apoio à medidas que depois serão anunciadas. Em relação ao IBGE, o ataque precedeu a decisão de cortar 25% do orçamento do Censo Demográfico de 2020, o que representará, sem dúvidas, menos oferta de empregos e perda de qualidade na pesquisa, fundamental para a aplicação de políticas públicas. Afinal, como mostram as inverdades ditas em relação ao IBGE, INPE, Fiocruz e Ancine, o que Bolsonaro faz é nada menos do que desacreditar dados científicos, baseado em pesquisa séria, para falar inverdades que não são de nenhum interesse aos trabalhadores.


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