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Protestos levam a renúncia do governador de Porto Rico

Na noite do dia 24 julho, Ricardo Rosselló, governador de Porto Rico, anunciou renúncia ao cargo após intensa mobilização dos trabalhadores da ilha, que durante 12 dias ocuparam as ruas exigindo sua saída. Porto Rico é uma ilha no mar do Caribe e, institucionalmente, é um território não-incorporado dos Estados Unidos. Rosselo, portanto, é um governador dos EUA.

A gota d’água para a revolta popular foi o vazamento de mensagens no aplicativo Telegram, entre Rosselló e outros 12 parlamentares, em que foram revelados, além de comentários machistas e homofóbicos, também piadas feitas no grupo sobre pilhas de corpos nos necrotérios porto-riquenhos após a passagem do furacão Maria em 2017, um dos maiores desastres ambientais da história da ilha.

O vazamento foi apenas o auge de um acúmulo de escândalos. No dia 10 de julho, seis funcionários do Ministério Público de Porto Rico foram presos sob 32 acusações de fraude, principalmente ligados a pasta da Educação. Os US$ 15 milhões desviados teoricamente deveriam ser direcionados à reconstrução da ilha após a passagem do furacão. Além disso, Rosselló foi um dos governadores responsáveis por impor ajustes fiscais cobrados pelo Governo Federal dos Estados Unidos, iniciados ainda no governo Obama e continuados por Donald Trump, à título de pagamento de dívida pública da ilha, que criou uma crise social sem precedentes: escolas e parte significativa da saúde pública foram privatizadas, demissão de servidores e, consequentemente, aumento dos níveis de pobreza. Obviamente, a crise político-econômica da ilha acentuou ainda mais os efeitos do furacão Maria.

 

Saída de Rossello não é a solução para todos os problemas

 

O governador que renuncia será substituído pela atual Secretária de Justiça, Wanda Vázquez Garced, que pertence ao partido de Roselló e também foi envolvida nos escândalos de corrupção. Além disso, a Junta de Supervisão Fiscal, órgão não eleito e nomeado por Washington, integrada por banqueiros de Wall Street para garantir o pagamento da dívida pública de Porto Rico, permanece. Chamado de “La Junta” pelos porto-riquenhos, o órgão poderá usar a revolta popular para ampliar seus mecanismos de controle e restringir ainda mais a democracia na ilha. Donald Trump, comemorou o afastamento de Rosselló e anunciou que  irá diminuir ainda mais os já escassos repasses que o Governo Federal dos EUA destina à  as ilha, sob a pecha de necessidade de combate à corrupção.

Podemos citar como exemplo da escassez desses repasses, o fato que, embora o Congresso estadunidense tivesse alocado, em 2017, US$ 42,5 bilhões em “ajuda humanitária” após a passagem do furacão, Porto Rico recebeu apenas US$ 13,6 bilhões deste montante, segundo dados do próprio Governo Federal estadunidense. Vale lembrar que Porto Rico conta apenas com um membro, em caráter consultivo e sem direito a voto, no Congresso estadunidense.

A revolta popular porto-riquenha tinha como alvo, portanto, não apenas a figura de Rosselló, mas também os ajustes fiscais impostos pelo governo federal impostos pelo governo federal estadunidense, para encher os bolsos dos credores de uma impagável dívida pública. Foram eles que levaram a atual situação de miséria da ilha que se agavou após a crise econômica de 2008 e com a passagem do furacão Maria

Em todo o mundo, o capitalismo só funciona se houver corrupção. Porém ela só se torna “escândalo” quando parte das elites dominantes ou o imperialismo planejam desestabilizar governos para aumentar seu controle sobre a economia de um país. No caso de Porto Rico, denúncias de corrupção levaram o povo à exigir a renúncia de Rosselló, mas isto está longe de ser a solução para a emancipação da ilha. Roselló é um representante do setor “anexionista” da elite porto-riquenha e chegou ao poder com a determinação de fazer a ilha se integrar totalmente aos Estados Unidos. Já a outra parte dos políticos que poderão se beneficiar com sua saída está no Partido Popular Democrático que defende a situação atual de Porto Rico como “Estado livre associado”, uma grande farsa que mantém a ilha com status de colônia dos EUA.

Revoltada com a deterioração de suas condições de vida, a população porto-riquenha tomou as ruas exigindo a saída de Rosselló. Porém, há o risco de o mundo assistir a mais uma explosão democrática popular ser utilizada pela direita para estabelecer governos que apliquem ajustes ainda mais severos contra o povo. Agora, mais que nunca, aparece com toda a intensidade, a necessidade da organização, pela esquerda, da luta dos trabalhadores porto-riquenhos para a tomada do poder, ligada à histórica bandeira de luta pela independência do país e contra o pagamento da dívida pública da ilha.

 


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