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Ataques às religiões afro e o preconceito com o negro

Os casos de violência contra as religiões de matriz africana não são novidades no Brasil, país que, diga-se de passagem, é (ao menos teoricamente) um Estado laico. Para piorar, temos visto, com o avanço da direita, principalmente após o último período eleitoral, uma intensificação desta “onda” de intolerância religiosa. Os ataques, invasões aos cultos e agressões verbais e físicas aos praticantes, bem como o fechamento de terreiros e casas de Umbanda e Candomblé por todo o País são exemplos da perseguição à cultura e a ancestralidade negra que permeia nossa sociedade.

De acordo com dados do “Disque 100”, canal ligado ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado atualmente por Damares Alves, de janeiro a novembro de 2018, foram registradas 360 denúncias de intolerância religiosa, uma média de 30 casos por mês. Destes, 213 foram contra religiões de matriz africana, o que revela o caráter preconceituoso e racista dos ataques.

A pesquisadora especialista em religiões afro-brasileiras e professora da PUC-RIO, Sônia Giacomini, em entrevista ao jornal O Globo, citou um “clima de muita disputa, muita agressão e muito medo”, que se acirrou a partir da última campanha eleitoral. O aumento das denúncias está ligado ao aumento da intolerância, não sendo difícil, na conjuntura atual, imaginar os motivos. “A última campanha eleitoral teve uma expressão muito evidente das formas intolerantes, e elas tendem a se multiplicar”, disse Giacomini.

Os ataques partem, em sua maioria, de cristãos evangélicos. Os grupos evangélicos foram os que mais cresceram durante os últimos anos. Segundo o derradeiro censo do IBGE sobre o assunto, o número de evangélicos , que somava 15,4% da população, em 2000, alcançou 22,2%, em 2010. Tendo lideranças que propagam o ódio às religiões afro-brasileiras em suas pregações, não é incomum encontrar casos como o da menina de 11 anos que foi apedrejada na saída de uma cerimônia de Candomblé, enquanto seus agressores, brandindo a Bíblia, gritavam: “É o diabo, vai para o inferno, Jesus está voltando”, ou do terreiro onde traficantes evangélicos armados expulsaram os religiosos, incendiaram o local dos cultos e picharam o muro com a frase “Jesus é o dono do lugar”. “Coincidentemente”, ambos os casos ocorreram em áreas periféricas do Rio de Janeiro.

A perseguição e intolerância com as religiões de matriz africana passam, invariavelmente, por suas raízes, pela marginalização do povo negro e de qualquer coisa que esteja ligada a ele. O genocídio do povo negro não ocorre apenas com a promoção de assassinatos por forças repressoras do Estado nas periferias e favelas, mas também no massacre e na marginalização de seus costumes ancestrais. Porém, não devemos ter a ilusão de que este processo de marginalização e exclusão é isolado. Afinal, nos moldes do capitalismo, o negro é apenas um objeto e, como tal, deve ser utilizado apenas como escravos, sem direito a cultura, lazer ou religião.


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