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“Vaza Jato” e a moral pequeno-burguesa

Um dos capítulos mais comentados sobre a operação de denúncias contra a Operação Lava Jato, iniciada em junho pelo site The Intercept, foi o apoio que ganhou da Revista Veja, representante da mais venal e manipuladora imprensa corporativa burguesa. Mas a Veja não foi o único exemplo desta “virada moralista” da imprensa nacional. Os jornais Folha de São Paulo, Estadão e até a Rede Globo, setores que estão envolvidos “até o pescoço” no golpe orquestrado para derrubar o governo de frente-popular do PT e manter na cadeia o ex-presidente Lula para eleger um candidato “seu”, também surfam na onda da “Vaza Jato”.

O que está por trás desse suposto “despertar” moral da imprensa golpista não é o triunfo da verdade sobre a manipulação, mas, uma avassaladora crise de um governo que a burguesia nacional “engoliu a seco” para evitar o fracasso total da direita nas eleições de 2018.

Em meio ao alvoroço gerado pelas denúncias do The Intercept, parte da imprensa nacional optou por se apropriar das informações a fim de controlá-las ao sabor dos interesses das grandes corporações capitalistas, preocupadas, neste momento, com a aprovação da Reforma da Previdência. Obviamente que não esperam, com as denúncias, fortalecer a campanha pela libertação de Lula, tampouco derrubar Bolsonaro, o que geraria o acirramento da crise num momento em que o governo está prestes a marcar seu “gol de placa”, com o avanço da possibilidade de aprovação da Reforma da Previdência.

 

“Vaza Jato” comprova o que há muito se diz sobre Moro

 

Desde 2014, quando os mecanismos para tentar evitar a reeleição de Dilma Rousseff se escancaravam, não faltaram denúncias de que se tratava da organização de um golpe de Estado. Tal golpe contava com a participação fundamental do Judiciário, na figura do então juiz Sérgio Moro e da operação Lava Jato, agindo à revelia da lei para criar o clima favorável a todo tipo de manipulação midiática em favor da destruição política do PT. Não podemos esquecer as palavras do então senador Romero Jucá (PMDB-RR), em gravações que foram publicadas em 2016, onde falava da necessidade de um grande acordo nacional para expulsar o PT do governo, "Com o Supremo, com tudo".

Para citar outro exemplo temos, também em 2016, o lançamento do livro “A resistência ao golpe de 2016”, uma obra escrita por 104 autores, dentre eles juristas, acadêmicos, cientistas políticos, líderes sociais, artistas, economistas, jornalistas, organizado por Carol Proner, Gisele Cittadino, Marcio Tenenbaum e Wilson Ramos Filho. Em um dos artigos da coletânea, lê-se: “Moro, o operador judicial da Lava Jato, ao fugir da neutralidade e escancarar a politização da justiça, compromete e empareda o Judiciário. Na pele de um justiceiro vingador, (...)torna-se um poderoso ator político, sem a correspondente responsabilidade exigida na República dos agentes políticos. Paradoxalmente, será descartado justamente por seus hoje ‘apoiadores’, (...) quando estes decidirem que o melhor é calá-lo e desacreditar sua operação que, ao final, os compromete”.

A politização da Lava Jato sempre foi denunciada com base não em previsões ou suposições, mas na constatação política da realidade que, depois do afastamento da presidenta eleita, levou Lula à cadeia e garantiu a eleição de Jair Bolsonaro. Os documentos apresentados pelo jornalista Gleen Greenwald são as provas cabais para deslegitimar a prisão de Lula e as eleições de 2018, que não passaram de uma fraude contra a vontade do povo que, ao que tudo indica, reelegeria o ex-presidente ainda no primeiro turno.

 

Direita e esquerda se unem novamente no combate à corrupção?

 

O problema que surge em torno da “Vaza Jato”, após um mês de denúncias diárias, é o uso que a esquerda fará delas. As lideranças dos partidos da esquerda pequeno-burguesa têm se apoiado em questões morais para avaliar as denúncias, ao invés de utilizá-las como impulsionadoras da luta contra os planos imperialistas, que querem fazer do Brasil mais um quintal das potências capitalistas.

No passado recente, parte da esquerda nacional comprou o discurso da luta “anticorrupção” da direita, defendendo a Lava Jato. Foi o que fez, por exemplo, a corrente MES, do PSOL, ao publicar um documento, em 2016, em defesa da Lava Jato, onde afirmava que era desastroso definir a Operação como agente do imperialismo e que, para o bem da luta contra a corrupção, ela deveria continuar. Mesmo a direção do PT, à época do “escândalo” do mensalão, fez uma autocrítica em nome da luta anticorrupção, jogando seus representantes investigados na “jaula” dos leões.

Tais posicionamentos baseiam-se no que a direita diz sobre a corrupção e não na verdade sobre a democracia burguesa. Desde o mensalão, onde a teoria do domínio dos fatos se transformou em pretexto para se levar à cadeia as maiores lideranças do PT, a realidade mostrou que a luta contra a corrupção, não só deixou livre os maiores corruptos investigados, como elevou ao poder corruptos ligados às milícias, ao narcotráfico e a todo tipo de abuso do dinheiro público.

Nos marcos do capitalismo, o uso da corrupção como pretexto para derrubar governos é estratégia clássica do imperialismo moderno. Quando a esquerda finge ignorar isso, ela abandona a luta de classes para se adaptar ao sistema político burguês, buscando agradar seu possível eleitorado, manipulado pela ideologia dominante. Ou seja, ela presta um desserviço à verdade que interessa aos trabalhadores.

Ao restringirem a “Vaza Jato” à luta do “bem contra o mal”, as lideranças da esquerda ignoram o antagonismo entre os interesses dos trabalhadores e os da burguesia e todas as suas variantes. O afastamento de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e sua derrocada moral podem surgir como solução plausível, mas para favorecer o governo. Não é a toa que o ministro já pediu um afastamento.

A “Vaza Jato” já revelou as relações de Sérgio Moro e dos lavajatistas com a destruição da economia nacional ao perseguir empreiteiras nacionais, como a Odebrecht, para o bem das empreiteiras norte-americanas. Já provou que a Lava Jato foi responsável pela eleição de Bolsonaro, cujo governo só faz atacar os trabalhadores e os direitos democráticos da população, além de acatar ordens de Donald Trump, para o bem da economia dos EUA, e fechar acordos do tipo Mercosul/EU, que só beneficiará os países europeus. Numa das últimas revelações, o site The Intercept, em parceria com a FolhaSP, provou que a Lava Jato está a serviço do imperialismo norte-americano, revelando que integrantes da força-tarefa se mobilizaram para interferir na política interna da Venezuela, por sugestão de Sergio Moro, em 2017.

Diante da comprovação do caráter criminoso da Lava Jato, as denúncias de Greenwald não podem ser usadas somente como palanque para as próximas eleições porque, até lá, os ataques se aprofundarão sobremaneira contra o povo brasileiro. A defesa dos trabalhadores, as verdadeiras vítimas dessa farsa golpista, passa pela organização da luta com os instrumentos próprios da classe operária, que são as manifestações de rua, as greves que param a produção e as ocupações de fábricas, estatais, escolas e universidades. O governo Bolsonaro é fruto de uma fraude política e deve ser derrotado pelas mãos do povo. Para isso, é preciso intensificar a agitação em torno de suas inevitáveis crises, uma vez que seu caráter é antipopular.


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