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“Vaza Jato” reafirma polarização e confusão política no Brasil

Nas últimas semanas teve início um importante episódio que jogou luz sobre o golpe e comprovou, de forma irrefutável, que o ex-presidente Lula foi vítima de “lawfare”, manipulação das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política, cujo resultado levou à presidência da República o representante da extrema-direita, Jair Bolsonaro.  O vazamento de informações sobre a Operação Lava Jato, publicado pelo jornalista Glenn Greenwald, no site The Intercept, conhecido como “Vaza Jato”, é o assunto mais comentado pela imprensa e nas redes sociais e fortaleceu a polarização política entre a direita, os defensores da Ditadura Militar, do fascismo em seu extremo e/ou por sua variante, representada pelo “antipetismo”, e os setores que se encontram no plano mais progressista, de combate ao golpe, em defesa da Constituinte, dos direitos básicos da população, pisoteados pela politização do Judiciário.

Mas o escândalo da “Vaza Jato” revelou muito mais do que a insensatez e o oportunismo dos que defendem a Operação criminosa coordenada por Sérgio Moro, que foi premiado com o cargo de ministro da Justiça por sua atuação na retirada de Lula das eleições. O impacto das revelações de Greenwald desnuda a crise no interior da burguesia, dividida entre os que tentam manter o discurso de que Moro é o baluarte da luta anticorrupção e os que sentem a pressão da opinião pública, afetada pelas provas incontestáveis e pela crescente impopularidade do governo Bolsonaro.

No interior do Judiciário, por exemplo, a briga do Supremo Tribunal Federal (STF) com a Lava Jato ganhou reforço com as provas dos vazamentos.  As declarações do ministro Gilmar Mendes reconhecendo ser esta uma Operação criminosa e que a prisão de Lula é ilegal, sinalizou uma possível aprovação no Supremo do pedido de Habeas Corpus (HC) de Lula, por três votos a dois, no julgamento que ocorreria dias depois.

Contudo, o fato levou os militares bolsonaristas a fazerem nova ameaça ao STF. O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), árduo defensor de Moro, fez pronunciamento violento em relação à última entrevista de Lula, ocorrida após o início da “Vaza Jato”, afirmando que o ex-presidente deveria ser condenado à prisão perpétua, algo proibido pela Constituição brasileira. Não é a primeira vez que a caserna manda recados ao STF em relação à prisão de Lula. Em abril de 2018, na véspera do julgamento em que o STF negou HC preventivo ao ex-presidente, o general Villas Boas escreveu uma mensagem em suas redes sociais, lida por Willian Bonner ao final do Jornal Nacional, em que pressionava publicamente o Supremo a rejeitá-lo.

Tal pauta voltará a ser discutida em agosto. Já a proposta de Gilmar Mendes de dar liberdade imediata à Lula em caráter liminar, até que se votasse a acusação de suspeição contra o ex-juiz da Lava Jato, foi negada.


Imprensa dividida

 

A imprensa burguesa, parte ativa das manipulações promovidas pela Lava Jato, também sofre a pressão do impacto das denúncias do The Intercept. Em sua imensa maioria, as matérias e análises buscam desqualificar e incriminar a prática de jornalismo investigativo de Greenwald. No último número da revista “IstoÉ” foi publicada uma reportagem com ameaças baseadas em supostas investigações da Polícia Federal que poderiam mudar o curso das investigações da “Vaza Jato”. Nela, o jornalista Germano Oliveira, famoso por ser um dos porta-vozes informais da Lava Jato e por ter manifestado seu orgulho em ser um dos responsáveis pela prisão de Lula, enaltece Moro como símbolo do combate à corrupção. De acordo com a matéria, que ganhou a capa da revista, agentes da PF teriam informado à Germano que os responsáveis pelo hackeamento ilegal poderiam se alcançados e que isso se “constituiria uma bomba capaz de provocar uma reviravolta no caso”. Mas o jornalista não apresenta sequer uma fonte, tampouco ou documento sobre a suposta operação da PF.

Porém, a grande repercussão das denúncias que comprovam que a Lava Jato é uma fraude política contra o PT e contra as grandes empresas nacionais pressiona um setor da imprensa empresarial a adotar uma linha diferente da que incrimina e desqualifica as práticas de Greenwald.

Assim, diante da inevitável repercussão dos vazamentos, parte da imprensa de direita resolveu assumir a responsabilidade pelos ataques à Lava Jato como tática da burguesia de “perder os anéis para salvar os dedos”. A Folha de São Paulo e a BandNews fizeram parceria com Greenwald para também produzir novas revelações sobre a atuação do ex-juiz Sérgio Moro e da força-tarefa da Lava Jato. O dono do Grupo Bandeirantes, Johnny Saad, chegou a criticar a Operação, em evento público, por destruir as empresas nacionais e beneficiar as estrangeiras, revelando uma tímida reação da burguesia local em relação à destruição da economia brasileira. Certo é que as denúncias também deixarão expostas as articulações da Lava Jato com o imperialismo para destruir as empreiteiras nacionais, como ocorreu com a Odebrecht, principal concorrente das empresas norte-americanas no mundo.

 

Papel da esquerda diante das denúncias

 

No sistema capitalista, nem o Poder Judiciário, nem a imprensa controlada pelas elites econômicas têm compromisso com a justiça social. As instituições burguesas foram criadas e são sustentadas para oprimir e manipular a classe trabalhadora. Ciente disso, as organizações de esquerda não podem nutrir esperanças de que a “solução” para a crise política dada pela própria burguesia é a melhor saída para os trabalhadores.

A “Vaza Jato” comprova que o atual governo é fruto de uma fraude política, orquestrada para favorecer os interesses imperialistas. Os planos de destruição da economia nacional, a ampliação da exploração dos trabalhadores e os projetos de entrega de todo o patrimônio público e das riquezas nacionais para as grandes corporações estrangeiras estão cada dia mais evidentes para o povo brasileiro. É preciso avaliar cuidadosamente as intenções dos que favorecem a crise das instituições democráticas e, mais do que nunca, aproveitar a brecha criada pela “Vaza Jato” para esclarecer aos trabalhadores o conteúdo do golpe.

Como nos ensinou Lenin, “a esquerda precisa, mais do que sentimento, desejo, irritação”. É preciso fomentar a atividade das massas a partir do reconhecimento do que representa o atual governo. A única saída para os trabalhadores está na organização da resistência aos ataques econômicos, na defesa da soberania nacional, na rejeição às manipulações das elites, com luta nas ruas, em greve e ocupações.


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