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Marielle, Bolsonaro e Milícias

Uma ação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público prenderam, no último dia 12 de março, o sargento reformado, Ronnie Lessa, e o ex-PM, Élcio Vieira de Queiroz, ambos suspeitos de serem autores do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do seu motorista, Anderson Gomes, executados no dia 14 de março de 2018, com 13 tiros.

De acordo com as investigações, com os militares foram encontrados três celulares, uma arma e munições. O patrimônio acumulado pelo sargento reformado incluía casa, lancha e automóvel, valores incompatíveis com seu padrão de renda, o que reforça a tese de que o mesmo integrava um grupo de milícia (paramilitar), organizações criminosas formadas por policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na ativa, com ligações diretas com o tráfico e com políticos burgueses. A Polícia Civil também localizou 117 fuzis M16 novos, na casa de um amigo de Lessa, guardados em caixas, dentro de um guarda-roupa.

A ligação dos milicianos, acusados de assinar Marielle, com a família Bolsonaro é visível. O sargento reformado, Ronnie Lessa, era vizinho do presidente – morava no mesmo condomínio de luxo do presidente, Vivendas da Barra, local onde foi preso. Lessa é acusado de fazer parte do “Escritório do Crime”, uma das milícias mais poderosas do Rio que atua com exploração imobiliária, grilagem de terrenos e expropriação violenta dos moradores das comunidades. O chefe dessa facção, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, seria o capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, que se encontra foragido. Tanto a mãe quanto a esposa do capitão eram funcionárias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), lotadas no gabinete do filho de Bolsonaro, o então deputado estadual, Flávio Bolsonaro. A esposa de Magalhães trabalhou no gabinete como assessora parlamentar por 11 anos, e foi indicada por Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo pessoal de Adriano. Já a mãe foi uma das citadas no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por fazer repasses à conta de Queiroz.

Não podemos deixar de falar que o miliciano, um dos principais alvos da operação “Os Intocáveis”, deflagrada em janeiro para desmantelar a milícia de Rio das Pedras e Muzuzema, foi homenageado por Flávio Bolsonaro, durante uma sessão na Assembleia Legislativa do Rio, em 2003. O filho do presidente chegou a apresentar uma moção de louvor e congratulações a Adriano Magalhães por “serviços prestados à população”.  

O próprio Jair Bolsonaro também defendeu os milicianos, em 2008, durante seu mandato na Câmara Federal. Em seu discurso, Bolsonaro afirmou: “Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes. Existe miliciano que não tem nada a ver com gatonet, com venda de gás. Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade".

Outra grande “coincidência” é que o filho mais novo de Bolsonaro e a filha do sargento reformado, Ronnie Lessa, já teriam sido namorados. A informação foi dada pelo delegado responsável pelas investigações,  Giniton Lages, em uma entrevista coletiva logo após as prisões. Lages, no entanto, afirmou que tal fato não era o foco da investigação no momento. Um dia após essa declaração, o delegado foi afastado da investigação. Segundo o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), o delegado teria sido afastado por “já ter cumprido seu papel e ir fazer um curso na Itália”. Na verdade, essa é uma clara manobra para interromper a investigação antes que se torne ainda mais evidente a conexão da família presidencial com as milícias cariocas. Não podemos esquecer que o presidente da COAF, responsável por divulgar as “movimentações suspeitas” na conta do Flávio Bolsonaro, foi demitido do cargo.

Todos esses escândalos e denúncias, a relação direta da família Bolsonaro com as milícias, escancaram o caráter fascista do governo. A execução de Marielle será a tônica do próximo período, assim como a volta, de maneira mais organizada, de grupos paramilitares para perseguir, torturar e matar aqueles que se opuserem a tal política. Apenas uma luta criteriosamente organizada pelas entidades do movimento social será capaz de barrar essa investida.


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