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Crise na Venezuela

A Venezuela vem passando por uma arrastada crise econômica, que se agravou vertiginosamente após as sanções econômicas dos Estados Unidos a partir, principalmente, de 2017. Esse colapso vem levando ao desabastecimento e desemprego massivo. De fato, o que se assiste é a pressão promovida pelo imperialismo, cujo resultado é a desestabilização de mais um país subdesenvolvido. Esse é o problema que está na base das tentativas, impulsionadas sobretudo pelos Estados Unidos, de inviabilizar o governo de Nicolás Maduro.

Não bastassem todos os problemas enfrentados com o bloqueio econômico, Maduro tem que lidar com o oportunismo quase lunático do presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, João Guaidó, que no último dia 11 de janeiro se autodeclarou “presidente” da Venezuela. Tal aberração foi reconhecida pelo governo de 50 países, todos capachos dos Estados Unidos na geopolítica internacional.  

Foi este homem, ilegítimo em qualquer padrão, mesmo nos marcos da democracia burguesa, que deu início a um clamor, em nome de uma população que ele não representa, por “ajuda humanitária” para a Venezuela. Mobilizando a imprensa internacional, Guaidó partiu para a Colômbia, no dia 21 de fevereiro, de onde tentou organizar uma entrega de alimentos e medicamentos na Venezuela, com caminhões partindo da Colômbia e do Brasil. É interessante notar que antes de buscar essa tal ajuda, Guaidó participou do show “Venezuela Aid Live”, organizado pelo bilionário britânico, Richard Branson. O magnata tem investimentos na área de aviação e de biocombustíveis, ou seja, é um grande interessado em acessar os ricos campos de petróleo venezuelanos.

No dia 23 de fevereiro, os caminhões com a chamada “ajuda humanitária” foram enviados à Venezuela, mas as tropas de Maduro conseguiram repelir a ingerência externa com êxito. O presidente legítimo da Venezuela, Nicolás Maduro, eleito pela população, afirmou em sua conta do Twitter que “O império e os seus lacaios devem entender que na Venezuela reina a autodeterminação do nosso povo. Os problemas os resolveremos em união nacional, com o governo bolivariano que eu presido. Juntos Pela Venezuela!”

 

EUA quer jogar o problema nas mãos de seus fantoches

 

A “ajuda humanitária” que os Estados Unidos querem dar à Venezuela, dessa vez, está sendo terceirizada. Talvez por suas malogradas experiências no Oriente Médio, com lucros vindo a longo prazo e tendo que lidar com uma resistência organizada, Trump repassou a tarefa de quem enviará a “ajuda” com tropas, armas e bombas. Brasil e Colômbia estão assumindo um papel muito parecido com o que Israel faz no Oriente Médio, estando no caminho de defender os interesses dos Estados Unidos.

Os ideólogos do imperialismo fazem a festa neste momento. No dia 17 de fevereiro, em entrevista à BBC Brasil, o professor da Universidade de Oxford, David Doyle, afirmou que seria benéfico o Brasil assumir a posição de ser o país que pressionará Maduro a deixar o poder: “a melhor solução, na verdade, envolveria uma negociação liderada pelo Brasil em busca de uma saída pacífica e isso exigiria entregar algo a Maduro”.

Maduro, porém, não vem dando sinais de que aceitará uma negociação pacífica. Muito pelo contrário. Apesar da imprensa burguesa alardear algumas deserções de soldados, estas são insignificantes perante o tamanho do exército bolivariano. Maduro permanece com o auxílio das Forças Armadas. Isso leva à situação de eminência de uma guerra de tipo militar. E, para o imperialismo, em lugar de se envolver, será mais interessante enviar seus lacaios para fazer seu trabalho sujo. Para isso, conta com o auxílio de Jair Bolsonaro, no Brasil, e de Ivan Duque, na Colômbia.

Não por acaso, o grupo de Lima, um agrupamento de governos de países latino-americanos que apoia as medidas imperialistas no continente, formado em 2017 e liderado pelo Brasil, pediu a intervenção do Tribunal Penal Internacional para julgar os supostos crimes cometidos por Maduro, entrando em rota de colisão com o governo venezuelano.

O general vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, que já se manifestou favorável, em outros momentos, a uma possível intervenção militar na Venezuela, voltou a afirmar sobre a necessidade de se fortalecer o Exército para ações militares. Em evento do setor de armamentos, no dia 26 de fevereiro, Mourão afirmou, sobre a “situação da Venezuela”, que “na discussão com alguns companheiros de outros países que estavam lá, nós demos razão a toda importância que tem de haver, o preparo, a capacitação de forças armadas dos nossos países”. Ao que parece, o vice-presidente do Brasil não se importa em servir de “bucha de canhão” do governo estadunidense e fazer valer os interesses do imperialismo na América Latina, mesmo que isso custe a vida de milhares de brasileiros, numa guerra que nada diz respeito à classe trabalhadora.


Ajuda humanitária?

 

A experiência histórica demonstra que nada de “humanitário” tem na “ajuda” que os países imperialistas concedem ao terceiro mundo. Só para citar os exemplos mais recentes, temos os casos de “ajudas” concedidas pelos Estados Unidos ao Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria. Tais ações deixaram claro que o objetivo real dos imperialistas é apenas cortar o intermediário na exploração do petróleo.

No caso Venezuelano, a situação é ainda mais contraditória.

A crise econômica, política e social pela qual o país passa é fruto justamente do embargo promovido pelos Estados Unidos. Os países cujos governos não passam de lacaios do imperialismo, como Brasil, Colômbia e Argentina, acataram as ordens dos EUA e também participam deste embargo. Como a Venezuela depende em grandes proporções de suas exportações de petróleo, rapidamente entrou em colapso. Ainda em dezembro do ano passado, Maduro acertadamente disse em entrevista à BBC News, que a situação vivida no seu país era parte de uma guerra econômica empreendida pelo imperialismo americano.

Quem criou a crise na Venezuela vem hoje oferecer “ajuda humanitária”. Uma incoerência gigantesca. Contradição, porém, que não existe para Bolsonaro e seus asseclas, que seguem rezando a cartilha do imperialismo. Entretanto, o mesmo autodeclarado Presidente “João Guaidó” é denunciado pela própria imprensa norte-americana (o jornal New York Times) por mandar atear fogo em caminhões da tal “ajuda humanitária” promovida pelos EUA.

Com o circo todo armado, aos venezuelanos e à Maduro não restam saídas. É hora de aprofundar as contradições de classes, de continuar denunciando ao mundo a ingerência imperialista na soberania nacional venezuelana e mostrar para a classe trabalhadora a impossibilidade de se depender das migalhas dadas pelo imperialismo ao terceiro mundo em tempos de bonança. É hora de mudar de paradigma econômico-político e construir vigorosas ações diretas das massas rumo à luta pelo socialismo.


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