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França em chamas

O ano de 2018 foi marcado pelas manifestações na França, conhecidas como “Movimento dos Coletes Amarelos”, devido a roupa utilizada pelos manifestantes, foram iniciadas em novembro, contra a política do governo de Emmanuel Macron de elevar os preços dos combustíveis. Os protestos também foram reforçados pelos setores mais marginalizados da população francesa, como os terceirizados, subempregados, estudantes e trabalhadores do setor informal.
 
É interessante notar que o movimento ocorreu justamente neste país Europeu. No prefácio alemão da terceira edição do livro “18 de Brumário de Luís Bonaparte”, de Karl Marx, Friedrich Engels escreve que “a França é o país onde, mais do que qualquer outro lugar, as lutas de classes foram sempre levadas à decisão final”. A afirmativa, datada de 1885, tem sua razão de existir: a França foi palco de inúmeras revoluções, durantes os séculos XVIII e XIX, que enterraram de vez o modo de produção feudal.

O País também foi palco das principais manifestações de rua, no movimento que ficou conhecido como “Maio de 1968”, com grandes lutas estudantis e de trabalhadores por melhores condições de estudo e de trabalho. Agora, em 2018, a França emerge como palco de manifestações que chegaram a levar mais de 200 mil pessoas às ruas em atividade de protesto.
O movimento tem adotado como estratégia colocar fogo em viaturas de polícia e arrancar o asfalto das vias. Enfrentamentos contra as forças de segurança do Estado são comuns. No último dia 18 de dezembro, os manifestantes colocaram fogo também em cabines de pedágio.

Os “Coletes Amarelos” não têm ficado restritos à França. A causa tem se estendido por outros países europeus, como Alemanha, Sérvia, Bélgica e Holanda. As pautas vão desde ações contra o preço dos combustíveis até a luta contra a queda do poder aquisitivo da população.

 

Quem está por trás dos protestos?

 

O governo neoliberal de Emmanuel Macron já havia aprovado, mesmo com inúmeras reações contrárias, uma Reforma Trabalhista na França, em 2017. Em modelo parecido com a Reforma feita por Michel Temer, no Brasil, a jornada de trabalho francesa agora pode ser estendida até 60 horas semanais, a negociação direta entre empresários e trabalhadores foi aberta, sem a necessidade de intermédio sindical ou judiciário, e foram criadas facilidades para o empresariado demitir os trabalhadores.
O aumento do preço dos combustíveis foi apenas o estopim para a reação dos trabalhadores, após enfrentar os inúmeros ataques promovidos pela política de “terra arrasada”, implantada pelo neoliberalismo. Para tentar salvar os lucros dos grandes capitalistas, avança-se, até as últimas consequências, contra todos os direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora. A verdade é que o capitalismo está em adiantada fase de decomposição. Não se consegue mais extrair lucros da produção, logo, é preciso tirar direitos trabalhistas para manter alta a taxa de lucros da burguesia.

Aproveitando-se do “movimentismo” (quando a massa trabalhadora, por conta própria e sem direção organizada, vai às ruas protestar) dos coletes amarelos, a Confederação Geral do Trabalho, principal confederação sindical francesa, passou a convocar manifestações para cobrar de Emmanuel Macron o aumento do salário mínimo. Algumas vitórias já foram alcançadas pelo movimento, como a revogação do aumento do preço dos combustíveis. Porém, os manifestantes ainda estão nas ruas exigindo, além do aumento do salário mínimo, a reintrodução do Imposto sobre Grandes Fortunas, retirado por Macron; a dissolução da Assembleia Nacional e o chamado para novas eleições legislativas.

Entretanto, não é só o setor progressista que está nas ruas de Paris e da Europa. Aproveitando-se da confusão criada pelo movimentismo, em moldes muito parecidos com o que ocorreu no Brasil, em 2013, a extrema-direita francesa também está indo às ruas, com suas pautas reacionárias, a exemplo do pedido de aumento da barreira francesa aos imigrantes vindos, sobretudo do norte da África. No dia primeiro de dezembro, três movimentos de extrema-direita organizaram o que chamaram de “Encontro de Coletes Amarelos”, em Berlim, na Alemanha. A pauta era acabar com a “islamização do Ocidente”, que conforme o discurso desses grupos, seria causada pela entrada de imigrantes na Europa. Cerca de 1000 pessoas estiveram presentes.

 

Revolução ou contrarrevolução na França?

 

Prever que a França está à beira de uma revolução dos trabalhadores é apenas aventureirismo. Tal como mostra os ensinamentos marxistas, é o desenvolvimento da luta de classes que dirá o que acontecerá na França e nas outras manifestações na Europa.

Cabe às organizações mais conscientes do proletariado, sobretudo os sindicatos e os partidos revolucionários, levarem adiante uma luta real para fazerem valer sua direção e as pautas progressistas e revolucionárias no movimento. Que as classes oprimidas francesas e as direções dos trabalhadores não cometam o mesmo erro do Brasil, em 2013, quando uma manifestação que nasceu de uma pauta progressista, ser contra o aumento do preço das passagens do transporte urbano, se tornou palanque político para o crescimento de setores extremamente reacionários brasileiros, como o Movimento Brasil Livre (MBL).

É apenas o proletariado organizado, com consciência de classe, que conseguirá frear os ataques promovidos pelos grandes capitalistas. Que o proletariado francês consiga fazer valer a máxima posta por Engels, e que leve a luta de classes no seu país até às últimas consequências, expulsando Macron do poder e criando um governo dos trabalhadores da cidade e do campo.

 

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