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Futuro ministro da Educação promete volta da caça às bruxas

O futuro ministro da Educação do Brasil, Ricardo Vélez Rodríguez, afirmou durante um evento em Londrina-PR, realizado no último dia 27 de novembro, que “pensar na democratização da universidade é uma bobagem”. Para ele, “o aluno tem que sair do segundo grau pronto para o mercado de trabalho, com conhecimento para ‘ganhar dinheiro’, como os ‘youtubers’”.

Rodriguez, que é professor da elite do Exército e da Universidade de Juiz de Fora, tem um discurso compatível com os ataques aos professores e à Educação prometidos pela extrema-direita. Sua indicação foi anunciada no dia 22 de novembro, via redes sociais, por Jair Bolsonaro. Suas falas, após a indicação para a pasta, revelam a disposição do novo governo em colocar em prática as bandeiras ultradireitistas, levantadas durante a campanha eleitoral, no que se refere à organização da Educação Pública em favor dos grandes grupos privados que avançam sobre o País.

Assim como Bolsonaro, Rodrigues é contra a universalização do Ensino Superior. Para eles, os jovens da classe trabalhadora não precisam almejar a Universidade. Bolsonaro disse, em campanha, que os jovens brasileiros teriam “tara” por ensino superior, e que deveriam se contentar com cursos técnicos. Ele fala, logicamente, dos jovens da classe trabalhadora que, segundo o futuro ministro, poderão também ser youtubers. Trata-se de um claro recado sobre a intenção de aprofundar os ataques às Universidades públicas e às políticas que favorecem o ingresso e a permanência da juventude das classes populares nas mesmas, em favor da oferta privada de cursos profissionalizantes à distância.

 

Indicado por um guru

 

O futuro ministro é um defensor do Projeto “Escola sem Partido” e coleciona declarações de combate ao que denomina de "esquerdismo" na educação, bem como às discussões de gênero nas escolas.
Com livro publicado contra o PT e “crítico” da ideologia marxista, Rodrigues é o segundo nome indicado por Bolsonaro por aconselhamento do autointitulado “filósofo”, Olavo de Carvalho. O outro nome foi o do futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um apoiador de Donald Trump, que já anunciou sua cruzada em nome de “Deus e da família cristã” na política externa do Brasil.

A influência de Olavo de Carvalho na equipe formada para gerir o País a partir do ano que vem revela o caráter hipócrita do novo governo. Guru da direita bolsonarista, Carvalho, que já atuou como um jornalista medíocre e astrólogo, vive nos Estados Unidos, de onde se ofereceu para ocupar o cargo de embaixador do Brasil, mesmo sem ter sequer o diploma do ensino fundamental (estudou até a 5ª série do ensino fundamental). Sua influência cresceu entre jovens de direita através de cursos online, que visavam acumular dinheiro e “discípulos”. Na década de 1980, o “guru” ministrava cursos de astrologia. Segundo o acervo jornalístico do Estado de São Paulo, num desses cursos, Olavo de Carvalho oferecia "Orientação Profissional segundo a Astrologia”.

Houve especulações sobre o nome de Carvalho para o ministério da Educação, mas a indicação de Rodriguez, um professor universitário, deu um ar de seriedade à fanfarronice que representaria a escolha de um ex-astrólogo autodidata, colecionador de discursos ignóbeis para a pasta que controlará o trabalho dos especialistas em educação no Brasil. Se o período de transição para o novo governo já coleciona absurdos suficientes para colocar em xeque o futuro presidente antes mesmo da posse, a “seriedade” de Rodriguez deve ser entendida como uma garantia dada aos imperialistas em relação à privatização da educação. O futuro ministro defende, por exemplo, que o sistema de ensino básico e fundamental deva ser um serviço de responsabilidade dos municípios, dialogando com a ideia de “menos Brasília e mais Brasil”, defendida por Bolsonaro. Na prática, isso significa ampliar os mecanismos de privatizações através das Parcerias Público Privadas (PPPs) que as prefeituras já realizam em seus sistemas de ensino, jogando fartos recursos públicos nas mãos de grupos privados regionais. É uma forma de pulverizar o poder e garantir o apoio de prefeitos e vereadores ao Governo Federal.

 

A Escola com o Partido do presidente

 

A temática que mais identifica Ricardo Vélez Rodriguez com Olavo de Carvalho é a do Marxismo Cultural que, na visão deles, influencia todo o sistema educacional do Brasil. O futuro ministro promete combater o que considera um “grande aparelhamento lulopetista” nas universidades e no ensino básico e deixa claro que o ensino será aparelhado para a ideologia da extrema-direita que embasa o governo Bolsonaro. Prova disso é outra declaração polêmica dele afirmando que Jair Bolsonaro terá acesso prévio às provas do Enem, antes de serem aplicadas aos alunos. Tamanho impropério só poderia ser dito por alguém que aposta em um governo autoritário, sem respeito às regras estabelecidas por Lei e com caráter personalista, que praticará a censura como um bom governo fascista sabe fazer.

Rodriguez fez críticas ao ENEM e alegou que as provas são "instrumentos de ideologização e não meios sensatos para auferir a capacitação dos jovens no sistema de ensino”. Mas é preciso ter claro que essa cruzada moral contra professores e a campanha de uma suposta doutrinação de esquerda nas escolas, cujo instrumento mais emblemático de combate seria o Projeto “Escola sem Partido” (Lei da Mordaça), tem por objetivo calar aqueles que poderão lutar em defesa da Educação Pública gratuita e de qualidade como direito de todos, uma pauta de esquerda, obviamente. A cIasse dominante não que a escola “sem partido”, mas com partido único, dominado pela ideologia da burguesia.

A Educação é um “filão” para os tubarões da iniciativa privada sugarem verbas públicas. O orçamento do MEC é um dos maiores do governo e os mecanismos de privatização serão acelerados para que as verbas retiradas do suor da classe trabalhadora sejam despejadas nos cofres das grandes corporações. Rodriguez e Bolsonaro são funcionários dos interesses dos grandes capitalistas contra o direito da população à Educação pública, gratuita, laica e de qualidade. Um direito conquistado nas árduas lutas da classe trabalhadora.

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