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A oposição alucinada nos sindicatos

Na última quarta-feira, dia 24 de outubro, os professores da rede estadual de São Paulo participaram da reunião de representantes de escola do maior sindicato de docentes da América Latina, a Apeoesp. Essas reuniões têm por objetivo divulgar as decisões do Conselho Estadual do sindicato entre a categoria e tirar diretrizes para a luta.
A direção da Apeoesp tem mantido, na prática, a política de evitar a luta verdadeira dos professores. Às vésperas de uma eleição controlada por golpistas, onde um candidato fascista se encontra em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos e com a crescente ameaça de um golpe de Estado militarizado, a burocracia sindical capitula diante da necessidade de organizar o enfrentamento aos ataques que estão por vir, apresentando um calendário de atividades “reticente”. Uma das medidas tomadas foi cancelar a Conferência Estadual que ocorreria no início de dezembro e que seria um importante espaço para a categoria debater a luta para o próximo período.

Desde o impeachment de Dilma até a prisão do ex-presidente Lula não houve mobilizações suficientemente fortes, com as armas que a classe trabalhadora possui, para lutar contra o golpe a partir da organização sindical (greves, ocupações e manifestações nas ruas). Por outro lado, a ascensão de Bolsonaro representa o desespero da burguesia nacional entreguista, capacho do imperialismo, que não conseguiu alavancar nenhum nome entre todos os que representavam a continuidade do governo de “terra arrasada” de Michel Temer. A polarização política no Brasil e no mundo é expressão da crise do capitalismo, cuja saída está na superexploração dos trabalhadores. As ameaças de Bolsonaro aos direitos democráticos estão diretamente ligadas à necessidade de colocar a força física contra a população que, no próximo período, tenderá a se levantar em defesa de seus direitos.

Diante desse cenário, a esquerda revolucionária deve se apresentar como o setor mais consciente da classe trabalhadora. A Apeoesp, para citar um exemplo, deve ser pressionada por este setor a organizar (ainda este ano) a resistência contra todas as medidas de destruição da educação pública, já em andamento, seja qual for o resultado das eleições.
Mas nem toda a esquerda que se diz revolucionária age de acordo com tais lições. Nesta última reunião da Apeoesp, ocorrida em Assis, o representante do PCO, para atacar a política da LPS de apoio crítico à candidatura Haddad, formulou calúnias que somente evidenciaram sua insegurança diante da opção do seu partido em ficar neutro no segundo turno das eleições. Enquanto os militantes da LPS participaram da reunião com uma política clara para as eleições e para a luta sindical do próximo período, estabelecendo um diálogo com as forças políticas ali presentes, o militante do PCO repetia exaustivamente o jargão vazio e sectário da luta contra o golpe, apesar de estar “lavando as mãos” no momento de ascensão do fascismo, quando o golpe apresenta “seu monstro” e coloca um golpe militar na porta. Ser consequente na luta contra o golpe envolve, em primeiro lugar, lutar contra a extrema-direita, representada pela candidatura de Jair Bolsonaro.

O fato é que, ao invés de ir para as ruas disputar a consciência política das massas apoiando o voto crítico no PT, a política do PCO na Apeoesp é de proteger a burocracia regional das críticas sofridas por não fazer a devida campanha em favor do próprio PT, se tornando um “escudo” da Articulação, mas não em nome da unidade para a luta necessária.
A corrente Educadores em Luta, do PCO, que sempre se arvorou ser a “oposição de verdade” à diretoria burocratizada da entidade, nos últimos anos deixou de pressionar as direções a assumirem o caminho da luta de verdade. Com total apoio dos dirigentes do PCO, pela primeira vez, em muitos anos, os professores paulistas ficaram três anos sem realizar uma greve.
Sem frentes de militância junto aos professores e estudantes, o PCO tentou criar a ilusão de que as direções burocráticas das organizações dos trabalhadores dariam uma guinada à esquerda e fariam a luta contra o golpe, sem que houvesse a devida pressão das bases para isso.

Esses ataques aos grupos que têm atuação militante nos sindicatos servem também para o partido se proteger das críticas à ausência de qualquer campanha contra o golpe no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e derivados e do Frio no Estado de São Paulo, dirigido pelo PCO, onde inexistem atividades políticas de qualquer natureza. Com mais de 12 mil unidades de trabalho da categoria, o mais importante sindicato de trabalhadores das indústrias da carne e do frio do País reúne apenas cerca de 70 sindicalizados. Os dirigentes, agregados à família de Rui Costa Pimenta, impedem a representatividade de base, com medo dos trabalhadores.

Sectarismo ou oportunismo?

A atuação das organizações de esquerda, independentes do PT, é reconhecer o apoio popular ao partido como uma forma de resistência da classe trabalhadora às manipulações golpistas. Não se trata de nutrir esperanças nas eleições, muito menos na democracia burguesa, mas, de deixar a classe trabalhadora esgotar sua experiência com as eleições e, assim, elevar sua consciência sobre a necessidade da luta revolucionária.

Desmoralizados diante dos erros grotescos de suas últimas análises em relação às eleições, o PCO busca se livrar da degeneração com um último suspiro esquerdista e sectário ao chamar, ainda que timidamente, o voto nulo no segundo turno. Ainda assim, seus poucos representantes insistem em atuar no sindicato com um “pé em cada canoa”. Ao mesmo tempo em que apoiaram a campanha da presidenta da Apeoesp, Maria Isabel Noronha (Bebel), para deputada estadual, se recusam a fazer campanha para Haddad.

Qualquer debate sério, neste momento, precisa levar em consideração a análise da conjuntura política e da correlação de forças na luta de classes. O período não é revolucionário e, portanto, pede atenção às eleições, por mais controladas que sejam. A atual campanha em favor do PT significa se aliar aos setores organizados da classe trabalhadora que querem combater o golpe. Uma vez que Jair Bolsonaro declarou que não aceitará nenhum tipo de ativismo político caso seja eleito, é fundamental disputar a consciência dos trabalhadores revoltados através de palavras de ordem que sirvam de instrumento de pressão sobre o governo Haddad, que não pode ser entendido com a solução mágica dos problemas. A luta será inevitável e nela os traidores serão desmascarados.


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