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“Compêndio de O Capital” – parte I

Começaremos, a partir desta edição, com uma série de artigos sobre o livro “Compêndio de O Capital”, de Carlo Cafieiro. A obra, escrita em 1879, tem por objetivo divulgar e popularizar a obra “O Capital”, de Karl Marx. Não se trata de uma tradução, mas de “um resumo fácil e curto do livro de Marx”, conforme afirma o próprio autor.
Cafieiro, no prefacio à primeira edição, explica que seu trabalho se dirige especialmente a três categoria, a primeira “composta pelos trabalhadores inteligentes e com alguma instrução;  a segunda, pelos jovens nascidos na burguesia, mas que lutam pela causa dos trabalhadores e não têm ainda a suficiente formação nem o desenvolvimento intelectual para compreender O Capital; a terceira, finalmente, é essa moçada de escola, ainda quase criança, que se pode comparar a uma árvore que pode dar bons frutos, se transplantada para um terreno propício”. E também “a uma classe muito interessada no destino da acumulação capitalista: a classe dos pequenos proprietários”.
O primeiro capítulo da obra discorre sobre mercadoria, dinheiro e capital, começando com uma explicação sobre a mercadoria, que é “um objeto que tem um duplo valor: valor de uso e valor de troca, que é o valor propriamente dito”. O valor de uso, explica o autor, “se baseia na qualidade própria da mercadoria: se ela é para beber, para comer, ou para divertir. Portanto, essa qualidade é determinada para satisfazer uma determinada necessidade nossa e não qualquer outra”. Para explicar tal ideia, Cafieiro faz a seguinte analogia: “O valor de uso dos 20 quilos de café é baseado nas propriedades que o café possui e estas propriedades são tais que nos dão a bebida café, mas não prestam para fazer uma roupa ou qualquer outra coisa. É por isso que só podemos tirar proveito do valor de uso dos 20 quilos de café se sentimos a necessidade de beber café. Mas, se, ao contrário, eu precisasse de uma camisa e não dos 20 quilos de café que tenho em mãos? O que fazer?”.
Tal questionamento nos leva ao segundo ponto: o valor de troca. “Encontramos agora uma pessoa que tem uma camisa, da qual não tem necessidade, mas precisa do café. Então fazemos uma troca. Eu lhe dou os 20 quilos de café e ela me dá a camisa”, explica o autor. Em sendo a troca algo plenamente viável, o que estabelece a base do valor de troca? A resposta: trabalho. Segundo Cafieiro, “a mercadoria é produzida pelo trabalhador. Portanto, o trabalho humano é a substância procriadora; é o trabalho que dá existência à mercadoria. Em sua essência, embora de propriedades tão diversas entre si, todas as mercadorias são a mesma coisa, perfeitamente iguais, porque, filhas de um mesmíssimo pai, têm todas o mesmíssimo sangue em suas veias”. Só é possível trocar 20kg de café por uma camisa porque para se “produzir 20 quilos de café, precisou-se de tanto trabalho humano quanto para a produção de uma camisa”. Resumindo: “trocou-se trabalho por trabalho”.
Ao concluirmos que a “substância de valor é a mesma em todas as mercadorias” e, portanto, “que todas as mercadorias como veículo do valor são todas iguais e trocáveis entre si, o que nos resta, portanto, é comparar o tamanho dessa grandeza, medi-la”. E como saber qual é a medida do trabalho? O tempo! “Daí, alguém poderia dizer que quanto mais lento fosse um trabalhador, quer por inabilidade, quer por preguiça, mais valor produziria. Nada mais falso do que esta afirmação, pois o trabalho de que estamos falando e que dá substância ao valor, não é um trabalho de Pedro ou de Paulo, e sim um trabalho médio, que sempre é igual e que é propriamente chamado de trabalho social. E o trabalho que, em um determinado centro de produção pode ser feito em média por um operário, o qual trabalha com uma habilidade média e intensidade média”, esclarece o autor.

Dinheiro, um equivalente geral, e o surgimento do capital

“Para maior facilidade das trocas, começa-se a empregar uma determinada mercadoria como equivalente para todas as outras. Essa mercadoria se destaca do conjunto de todas as outras para se colocar frente a elas como equivalente geral, isto é, como dinheiro. Por isso, o dinheiro é aquela mercadoria que, pelo costume e por determinação legal, monopolizou o posto de equivalente geral”, elucida Cafieiro. Contudo, “seja através das mercadorias diretamente, seja através do dinheiro, a lei de trocas permanece a mesma, sempre. Uma mercadoria só pode ser trocada por outra se o seu valor de troca for igual. Isto quer dizer que, se uma mercadoria não tiver o mesmo tempo de trabalho que a outra, não há troca. Esta só acontece entre trabalhos iguais”.
E continua o autor: “Com a chegada do dinheiro, da moeda, as trocas diretas ou imediatas de uma mercadoria por outra desapareceram. Agora todas devem ser feitas através do dinheiro. Desse modo, qualquer mercadoria que queira se transformar em outra, deve, antes de mais nada, como mercadoria, transformar-se em dinheiro, e depois, como dinheiro, retransforma-se em mercadoria”.
É da alimentação e desenvolvimento desse organismo, ou seja, na forma de fazer aumentar progressivamente o dinheiro que surge o capital. Mas antes de conseguir resolver a questão da origem do capital é preciso resolver outra problemática: “encontrar uma mercadoria que dê mais dinheiro do que se gastou em sua compra. Em outras palavras, encontrar uma mercadoria que, em nossas mãos, possa aumentar de valor, de tal modo que, vendendo-a se possa ganhar mais dinheiro. Portanto, deve ser uma mercadoria bastante elástica para ser capaz de aumentar o seu valor, a sua grandeza de valor. Esta mercadoria tão singular existe: é a força do trabalho”.
E como se calcula o preço da força de trabalho? Cafieiro explica que o preço da força de trabalho se calcula tomando-se os preços dos alimentos, da roupa, da habitação, enfim, “de tudo que é necessário ao trabalhador para manter a sua força de trabalho durante o ano e sempre em seu estado normal. Acrescenta-se, a esta primeira soma, o preço de tudo que é necessário ao trabalhador para procriar, alimentar e educar seus filhos, segundo sua condição: depois divide-se o total pelos dias do ano – 365 – e saberá quanto, por dia, é necessário para manter a força de trabalho, o seu preço diário, que é o salário do operário”.
Os três elementos do processo de trabalho são: força de trabalho, matéria prima e os meios de trabalho. Mas a grande questão do sistema capitalista está na diferença “entre o preço da força de trabalho e o preço do produto da força de trabalho”. Isso porque, neste sistema, “o salário de uma jornada representa o necessário para manter um operário 24 horas, mas não representa de fato o que operário produziu em uma jornada de trabalho”. É dessa forma que o dinheiro dá cria e que nasce o capital.


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