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Racismo na faculdade: o escândalo dos Jogos Jurídicos

A mazela do racismo está presente em toda a sociedade e não é incomum ouvir denúncias de racismo no ambiente universitário. Desde casos onde professores e alunos reproduzem o discurso racista e chamam de “piadas”, até casos com agressões físicas e verbais. Isso ocorre cotidianamente, em todo o país. Por isso, não é difícil que casos de homofobia, machismo e racismo sejam reproduzidos nesse meio, escancarando o caráter podre da sociedade capitalista.

Exemplo disso foi o dos Jogos Jurídicos do Rio de Janeiro, tradicional competição esportiva entre as universidades de direito, sediado na região serrana, em Petrópolis. Nesses jogos, a delegação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) cometeu no mínimo três atos de racismo contra outras delegações. Tais atos escancaram o racismo estrutural que a sociedade se nega a aceitar e refuta com argumentos rasos como a miscigenação e o fato da maior parte da população brasileira se declarar negra. Segundo relatos, as três situações envolvem estudantes que fariam parte da torcida da PUC-Rio. A primeira delas ocorreu no dia 2 de junho: uma jovem jogou uma casca de banana na direção de um atleta negro da Universidade Católica de Petrópolis (UCP). No dia seguinte, ao final do basquete masculino, integrantes da torcida da PUC teriam imitado macacos diante dos torcedores negros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Por último, no mesmo dia, houve outra situação, também envolveu torcedores e jogadores da PUC que chamaram uma das jogadoras da delegação de Handebol da Universidade Federal Fluminense (UFF) de macaca. Logo após os fatos, uma série de vídeos, fotos e depoimentos de alunos, indignados com tais ações inundaram as redes sociais, cobrando um posicionamento da Liga Jurídica Estadual.

Atitudes tomadas pela “Atlética” apenas pioram a situação

O movimento Jogos Sem Racismo, que reúne alunos negros de universidades do Rio de Janeiro, denunciou os casos e publicou um comunicado no qual repudia as ações e cobra medidas e punições aos alunos da universidade. A Liga Jurídica Estadual, após tomar conhecimento do caso, chamou uma reunião extraordinária e decidiu aplicar várias medidas punitivas à Atlética. De acordo com a Liga, a PUC-Rio perdeu pontos e, consequentemente, o título de campeã geral deste ano, além de não poder se inscrever em qualquer competição no ano de 2018, salvo as que seus atletas já estavam previamente inscritos, e perdem o direito de participar dos jogos de 2019. A Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários e o Departamento de Direito da PUC-Rio decidiram constituir uma Comissão Disciplinar para averiguar as informações e, caso confirmem os fatos, deverão pedir a punição dos membros do corpo discente.

Mesmo após as punições, a Atlética de Direito da PUC-Rio lançou uma nota em suas redes sociais. A nota, carregada de jargões jurídicos e achismos, basicamente diz que eles “não são racistas, pois até tem alunos negros”. Essa é mais uma demonstração do discurso segregacionista dos alunos da atlética. Uma clara tentativa de desmerecer as denúncias e jogar uma cortina de fumaça no fato. Em parte da nota, dizem: “É salutar mencionar que, nos últimos anos, a Atlética, seguindo os valores e princípios pelos quais a PUC/Rio historicamente tanto preza, tem se preocupado em adotar todas as medidas cabíveis para combater todo e qualquer tipo de atitude discriminatória, em especial a racial, tentando, por exemplo, acabar com uma questão histórica dos jogos - generalizada entre todas as faculdades - de músicas provocativas que merecem ser repensadas e abolidas devido ao seu conteúdo. Aliás, nem poderia ser diferente, porque foi a PUC/Rio a instituição que primeiro instituiu pré-vestibular comunitário para negros e carentes; que foi a primeira, dentre as particulares brasileiras, a instituir a política de acesso e permanência de alunos negros e carentes, mediante concessão de bolsas de estudo e auxílio financeiro; e a primeira instituição a oferecer disciplina sobre ações afirmativas, no curso de graduação em Direito”.

A nota da Atlética apenas corrobora os fatos apresentados pelas outras delegações. Em momento algum se dispõe a criar sanções para os envolvidos no caso ou a apurar os fatos, mostrando ainda que, além de nublar as denúncias, não irá punir os envolvidos nos três casos. Em uma das reuniões entre as atléticas envolvidas, o Comitê da Liga Universitária e representantes dos Jogos sem Racismo, os representantes do Direito da PUC-Rio se recusaram a assinar o termo de compromisso e também se negaram a apresentar os dados de uma das alunas que cometeu um dos atos.  Em conjunto com a reincidência dos casos de racismo nos mesmos jogos jurídicos, envolvendo muitos torcedores e até mesmo jogadores, essa conivência da própria atlética mostra que eles estão totalmente a favor e até mesmo que incentivam tal prática. Inclusive, com a repercussão dos casos de racismo, vieram à tona músicas entoadas historicamente pelos torcedores da atlética repletas de teor racista.

Os alunos da faculdade ainda tentaram defender o posicionamento da Atlética nas redes sociais, sendo duramente criticados por pessoas que tomaram conhecimento do caso. Além disso, alunos do movimento “Jogos sem Racismo” pregaram inúmeros cartazes na PUC/RIO com palavras de ordem contra o racismo. No dia seguinte, a maioria desses cartazes já apareciam nas latas de lixo.

Por ações reais contra o racismo

O caso da PUC-Rio não foi o primeiro e definitivamente não será o último. O racismo está mais vivo do que antes como parte da ideologia dominante da sociedade brasileira. As sanções sofridas pela delegação não devem ser um fim em si mesmas e devem vir acompanhadas de ações afirmativas contra novos casos de racismo. Infelizmente, o ambiente universitário, que deveria ser de conhecimento e quebra dos padrões que atrasam a sociedade, ainda é um dos maiores reprodutores do racismo e de outras mazelas sociais.

O motor do racismo é o pensamento explorador do imperialismo, que ainda não vê o negro como pessoa, mas como mercadoria: primeiro como escravizados e, posteriormente, como parte da classe trabalhadora que é mais explorada nos postos de trabalho. Afinal, o racismo serve para que se explore ainda mais do trabalho do negro, forçando-o a ocupar postos de trabalho piores e recebendo menos, mesmo executando as mesmas tarefas que outros funcionários brancos.

O sistema de mais valia é sempre mais cruel para as minorias da sociedade. Apenas com a destruição do sistema imperialista que oprime a todos os trabalhadores, sejam negros ou brancos, iremos conseguir que a opressão do homem pelo homem pela cor da pele, ou por qualquer outra razão, seja destruída e possamos viver numa sociedade verdadeiramente igualitária.

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