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A privatização do São João

No Nordeste, as festas juninas são as comemorações mais esperadas do ano, uma tradição cultural de extrema importância. Essa paixão pelos festejos juninos é uma característica muito marcante dos sertanejos da região, que também alcança os moradores das grandes capitais nordestinas.

Em 1986, a cidade de Campina Grande, na Paraíba, reuniu todos os eventos e festas que aconteciam no mês de junho em um único lugar, no Parque do Povo, localizado no centro da cidade, e criou o slogan: “O Maior São João do Mundo”. O sucesso foi instantâneo e já no seu primeiro ano chamou a atenção da imprensa. Em Pernambuco, na cidade de Caruaru, um evento de tal porte também é realizado. Essas atividades reúnem turistas de todo o Brasil e do mundo, movimentando a economia local.

Atualmente, os números da festa impressionam. Em 2017, mais de quatro milhões de pessoas participaram das comemorações juninas do Nordeste e impactaram em mais de R$ 200 milhões no PIB da região.

Por conta disso, a prefeitura de Campina Grande “resolveu” fazer uma Parceria Público-Privada (PPP) com a empresa Aliança Comunicação e Cultura para realizar o evento em 2018, dando à parceira o direito de explorar comercialmente o evento, desde a venda de patrocínios, organização e comercialização dos restaurantes e barracas até a contratação das atrações artísticas e musicais da festa. Ou seja, o grande capital vai lucrar, definir e impor os aspectos artísticos e culturais da tradição junina.

O resultado dessa parceria desastrosa para o São João nordestino é a total descaracterização da cultura regional, além de desviar os recursos que poderiam ser arrecadados para a região, entregando-os à iniciativa privada. Assim como o futebol, o São João está sendo arrancado do povo. Com a privatização, o Parque do Povo perdeu muito das tradições e da memória nordestina. A cenografia tradicional das festas juninas estão, aos poucos, perdendo espaço. Boa parte das atrações artísticas também não se alinham com o motivo junino e até o cardápio oferecido na festa passa longe das comidas típicas – os fast-food tomaram conta.

O espaço dos artistas regionais, dos trios de forró e das músicas tradicionais diminuiu drasticamente, dando lugar aos shows de cantores sertanejos e atrações globais. O que motiva as contratações não é o caráter cultural, mas o mercado financeiro e os monopólios da música.

O São João de Campina Grande e de Caruaru sempre foram patrimônio do povo brasileiro, em especial dos nordestinos e deve ser respeitado e tratado como tal. Para tanto, faz-se urgente e necessária a volta da festa tradicional e popular que prestigia os artistas locais, as tradições e os costumes da região.

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